Lugar lindo é a vila de
Paranapiacaba, São Paulo. No meio das montanhas, tem ares de cidade
interiorana, com um toque de maresia. Suas ruas de pedra e casas antigas nos
transportam para outros tempos. Seu centro é um pátio ferroviário de grande
movimento.
As instalações da 5ª Machina dos Novos Planos Inclinados abrigam um pequeno museu ferroviário e material rodante antigo. No pátio, existem vagões em ruína, carros e guindastes.
Andando pelo antigo pátio, junto aos galpões do antigo sistema funicular, notei que ainda existiam trilhos, mais adiante. Só percebi sua presença devido ao reflexo. Senão, jamais os veria ali, no meio do matagal. Estavam cobertos de orvalho, e um musgo espesso tomava-os quase por completo.
Veio a pesada neblina. Fiquei ali junto àqueles trilhos, que lutavam pra não sucumbir, Abaixei-me para ver melhor. Vi que se tratava de um AMV. Procurei as agulhas. Nada. Estavam enterradas. Mais adiante avistei o coração, sufocado pelas plantas. Toquei-o. Pude ouvir sua voz metálica, contando histórias de outros tempos. Histórias felizes e tristes, curiosas e peculiares. Histórias de sacrifício e trabalho duro. Histórias de muitas vidas. Mas aqueles trilhos haviam sido abandonados. Abandonados e esquecidos. E questionavam-se por que. Queriam ser úteis novamente, servir a máquinas e a pessoas. Estavam ali, morrendo lentamente, devorados pela ferrugem e pela maresia e suas súplicas não eram ouvidas. Resignados, viam os dias passar, lentamente...
Eu não podia fazer nada. O coração da chave sob minha mão ainda vivia. Mas não sabia até quando. Pouco a pouco, a relva e o solo úmido tomam os trilhos, centímetro a centímetro.
Me afastei dali. A neblina estava ainda mais espessa. Atravessei a passarela acima do atual pátio. Iria conhecer outros cantos do vilarejo.
Mais adiante, outra cena de cortar a alma. O Estrela,que jaz morto no canto do antigo pátio. A ferrugem destruiu-o por completo. A carcaça vazia e carcomida só possui lembranças, e agoniza jogada na linha. A névoa envolvia completamente a composição, fazendo-a parecer um fantasma de metal.
Um grupo de jovens se aproximou. “— Mas que sucata velha!— ” falou um deles. Tiraram algumas fotos e se retiraram. Fiquei espantada com o total desrespeito àquela composição extinta, que levou tanta gente e tantas coisas, e que não teve sequer um fim respeitável à memória de seu serviço. E que agora, calada, faz as vezes de atração dos horrores, para felicidade dos turistas e indignação dos ferroviários.
Retirei-me. Não conseguia mais olhar. Mais afastada, só avistava a silhueta escura do Estrela, erguendo-se solitário em meio ao nevoeiro. Sentei em uma parte mais alta, nas escadas de uma antiga casa. Contemplei mais uma vez os prédios do sistema funicular ao longe. Mesmo distante, podia ouvir os sussurros do coração do AMV, que ainda pulsava... pulsava...
As instalações da 5ª Machina dos Novos Planos Inclinados abrigam um pequeno museu ferroviário e material rodante antigo. No pátio, existem vagões em ruína, carros e guindastes.
Andando pelo antigo pátio, junto aos galpões do antigo sistema funicular, notei que ainda existiam trilhos, mais adiante. Só percebi sua presença devido ao reflexo. Senão, jamais os veria ali, no meio do matagal. Estavam cobertos de orvalho, e um musgo espesso tomava-os quase por completo.
Veio a pesada neblina. Fiquei ali junto àqueles trilhos, que lutavam pra não sucumbir, Abaixei-me para ver melhor. Vi que se tratava de um AMV. Procurei as agulhas. Nada. Estavam enterradas. Mais adiante avistei o coração, sufocado pelas plantas. Toquei-o. Pude ouvir sua voz metálica, contando histórias de outros tempos. Histórias felizes e tristes, curiosas e peculiares. Histórias de sacrifício e trabalho duro. Histórias de muitas vidas. Mas aqueles trilhos haviam sido abandonados. Abandonados e esquecidos. E questionavam-se por que. Queriam ser úteis novamente, servir a máquinas e a pessoas. Estavam ali, morrendo lentamente, devorados pela ferrugem e pela maresia e suas súplicas não eram ouvidas. Resignados, viam os dias passar, lentamente...
Eu não podia fazer nada. O coração da chave sob minha mão ainda vivia. Mas não sabia até quando. Pouco a pouco, a relva e o solo úmido tomam os trilhos, centímetro a centímetro.
Me afastei dali. A neblina estava ainda mais espessa. Atravessei a passarela acima do atual pátio. Iria conhecer outros cantos do vilarejo.
Mais adiante, outra cena de cortar a alma. O Estrela,que jaz morto no canto do antigo pátio. A ferrugem destruiu-o por completo. A carcaça vazia e carcomida só possui lembranças, e agoniza jogada na linha. A névoa envolvia completamente a composição, fazendo-a parecer um fantasma de metal.
Um grupo de jovens se aproximou. “— Mas que sucata velha!— ” falou um deles. Tiraram algumas fotos e se retiraram. Fiquei espantada com o total desrespeito àquela composição extinta, que levou tanta gente e tantas coisas, e que não teve sequer um fim respeitável à memória de seu serviço. E que agora, calada, faz as vezes de atração dos horrores, para felicidade dos turistas e indignação dos ferroviários.
Retirei-me. Não conseguia mais olhar. Mais afastada, só avistava a silhueta escura do Estrela, erguendo-se solitário em meio ao nevoeiro. Sentei em uma parte mais alta, nas escadas de uma antiga casa. Contemplei mais uma vez os prédios do sistema funicular ao longe. Mesmo distante, podia ouvir os sussurros do coração do AMV, que ainda pulsava... pulsava...
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